Setor Norte foi um dos focos das briga no entorno do estádio Nilton Santos (Foto: Marcelo Baltar).

O caos anunciado do Engenhão: “Há mais ambulância do que polícia”

Efetivo de 48 homens previsto para Bota x Fla era menor que o da estreia alvinegra contra o Nova Iguaçu. Protestos esvaziaram ainda mais planejamento de segurança.
Setor Norte foi um dos focos das briga no entorno do estádio Nilton Santos (Foto: Marcelo Baltar).

Setor Norte foi um dos focos das briga no entorno do estádio Nilton Santos (Foto: Marcelo Baltar).

Um dos seguranças do Botafogo, na porta do Engenhão, pouco antes das 17h, observou:

– Repórter, repara só. Tem mais ambulância do que carro de polícia – disse.

Era o início de uma tarde e noite que vai virar exemplo do que não pode acontecer na realização de um clássico. A vitória do Flamengo por 2 a 1 sobre o Botafogo foi precedida de cenas de guerra no entorno do Nilton Santos – não à toa, há um morto e feridos no saldo triste de mais um domingo em campos brasileiros. O estádio, é bom que se diga, nada tem a ver com os tristes episódios deste domingo pelo Campeonato Carioca.

Foram vários fatores que provocaram este cenário. Com dois repórteres e um fotógrafo rodando o Engenhão horas antes e depois da partida, além de depoimentos diversos – anônimos ou não -, o GloboEsporte.com mostra por que tudo deu errado. E poderia ter sido bem pior.

O CONTEXTO

A crise no Estado, com atraso de funcionários e servidores, chegou à segurança pública. Os protestos da Polícia no Espírito Santo chegaram ao Rio no fim da semana passada e minaram batalhões. Atingiu em cheio o futebol na tarde deste domingo. Diretores do Botafogo informaram à reportagem que, às 16h, horário de chamada do quadro operacional do estádio, simplesmente não havia um policial para abrir o estádio. Policiais do 3º Batalhão da Polícia Militar e a cavalaria, que sempre fazem a segurança no entorno dos jogos no Rio, não apareceram no Nilton Santos. O Botafogo abriu os portões às 17h e fez a revista na entrada do estádio com segurança própria.

QUANTOS POLICIAIS DEVERIAM COBRIR A ÁREA DO JOGO?

Após o jogo, na porta do Jecrim, um dos policiais, do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), relatou ao GloboEsporte.com. 

– Clássico no Rio a gente faz com 160 a 180 policiais. Sabe quanto tínhamos antes do jogo? Cinquenta e dois policiais! Sabe quantos mais vieram? Dois – disse o policial, sem se identificar, afirmando que o pequeno efetivo policial era resultado dos protestos na frente dos batalhões.

Na ata de planejamento para o clássico, o Gepe previa ter 170 policiais. Após a partida, policiais do Gepe, no estacionamento do Engenhão, mostravam revolta com as condições de trabalho nesse domingo e a falta de apoio na partida.

No lado de fora do estádio, o 3º Batalhão da Polícia Militar teria 48 policiais, com 24 viaturas. Para se ter ideia, na estreia do Botafogo no Estadual, contra o Nova Iguaçu, o 3º BPM planejou usar 60 policiais. Antes da partida, pouquíssimos carros da Polícia apareciam nos arredores. Quando a situação saía completamente de controle, chegaram carros do 1º Comando de Policiamento da Área, do 17º BPM e do 22º BPM. As intervenções evitaram mais feridos.

O QUE AS AUTORIDADES E O BOTAFOGO FIZERAM

De última hora, policiais de outros batalhões e mais apoio da Polícia Civil foram chamados para completar o policiamento no estádio. Chegaram ainda ônibus com guardas municipais. O Botafogo tentou cancelar a partida, alegando falta de segurança e de policiamento. O clube contratou 300 seguranças particulares, da empresa “Blindados” – o que representa aumento de quase 70% no que o clube costuma usar no estádio.

– Nossos seguranças que fizeram a revista dos torcedores quando o público começou a chegar – contou um diretor do Botafogo.

O clube permitiu a sócios torcedores e outros alvinegros a entrarem por portão alternativo, para que evitassem dar a volta e se aproximar da confusão nas ruas do estádio.

O QUE ELES DISSERAM ANTES?

“O Gepe garantiu durante a semana a segurança para a realização do clássico. Temos 70 homens do Gepe dentro do estádio, cerca de 50 policiais militares no entorno, 14 viaturas e mais 120 homens da guarda municipal. Ainda são esperados mais 80 guardas municipais, totalizando 200. Não podemos cancelar a partida na base do achismo. Tem que haver um documento oficial do Gepe”
Marcelo Vianna, diretor de competições da Ferj

“Nós temos confiança plena no major Silvio, no Gepe, temos certeza que o jogo vai acontecer sem problema nenhum. Momento do Rio e do Brasil preocupa a todos nós. Mas em relação ao jogo de hoje, acho que vai acontecer sem o menor problema, qualquer coisa dita ao contrário só serve para alarmar ainda mais a população, os torcedores. Vai ser um jogo perfeitamente dentro do normal. Temos a palavra do comandante do Gepe de que está tudo sob controle.”
Presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, ao SporTV

“Quando cheguei, fui informado de que não existia policiamento na área externa do estádio. Tem policiamento da Polícia Civil, mas da PM não tinha ninguém fora. O Botafogo se sente desconfortável com a realização do jogo. Mas a Ferj diz que segurança é adequada, e vai ter jogo. Então vamos jogar” 

Luis Fernando Santos, vice-presidente executivo do Botafogo

“Viemos aqui para jogar, mas o torcedor precisa de segurança. É claro que todos estão aqui para ver futebol, mas, se perguntarem a minha opinião, para mim seria melhor não ter jogo nessa situação”
Roger, atacante do Botafogo

 

G1

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