Prefeitura de Rio Claro (SP) mudou administração, médicos e enfermeiros de unidade após 3 mortes de crianças em 3 meses. CRM também vai apurar procedimentos.
RIO CLARO/SP – A família do menino de 5 anos que morreu na UPA da Avenida 29, em Rio Claro (SP), está revoltada e em estado de choque. “[O médico] falou que ele não tinha nada”, desabafou a mãe Michele Leite da Cruz em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo.
A morte na quarta (14) foi a terceira registrada em três meses na unidade. A prefeitura, a Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina apuram os casos.
- Após 3 mortes, Prefeitura troca administração e médicos de UPA
Mãe insistiu por diagnóstico
Os pais contam que Marcelo Adiel Morales dos Santos Filho passou um dia inteiro com febre. Na manhã de terça, a mãe decidiu levar o filho até a UPA e relata que, durante a consulta, teve que insistir com o médico para ter um diagnóstico.
“Ai eu falei: ‘doutor olha direito que tem sim. Eu vejo de longe o pus na orelhinha dele’. Ai ele falou: ‘realmente, ele está com infecção de ouvido e com a garganta inflamada, então vamos passar cefalexina para ele’”, relatou Michele.
Menino piorou
Ela voltou com o filho pra casa e deu o antibiótico, mas ele piorou. Por volta de 21h, o pai levou o menino novamente e ele já apresentava um inchaço na região do abdômen, mas a recomendação foi medicar contra a febre.
“Aplicaram a dipirona direto na veia, passou uma hora e nem sinal, aumentou a febre dele. Até falei para a enfermeira para darmos um banho nele. Eu mesmo dei banho e não tinha uma toalha para secar, tive que usar um lençol para secar o meu filho”, disse o pai Marcelo Adiel Morales dos Santos.
Infecção grave
Ele foi liberado antes de 0h, mas os pais voltaram na UPA porque Marcelo só piorava, com dores e manchas na pele. Ele ficou em observação a madrugada toda e durante a manhã desta quarta o resultado de um exame apontou infecção grave. A equipe pediu a transferência para o Pronto-Socorro municipal, mas ele morreu antes.
“Na hora que eu entrei na sala começou a discussão entre o Samu e um coordenador, um jogando no outro para saber na mão de quem que meu filho faleceu. O sorriso dele não apaga da minha mente, mas o jeito que eu vi meu filho aqui, nunca mais eu vou esquecer”, lamentou a mãe.
O corpo foi liberado no começo da tarde e parentes e amigos tentaram consolar os pais. “Eu perdi o meu filho, perdi a minha vida e ninguém está nem ai para nada”, disse o pai.
Apuração e mudanças em UPA
Na nota, a Fundação disse ainda lamentar a morte da criança e que todos os procedimentos médicos adotados estão sendo objetos de investigação para apurar o caso. Se for constatada imperícia médica, os profissionais serão responsabilizados.
Após uma reunião durante a tarde, a prefeitura decidiu trocar todo o setor administrativo da UPA da Avenida 29, além de substituições de médicos e enfermeiras.
“Como pai e gestor público, assim como toda a cidade, fiquei entristecido e indignado com os acontecimentos. É inaceitável a reincidência de mortes naquela unidade de saúde em tão pouco tempo”, afirmou o prefeito Juninho da Padaria (PSDB) em comunicado enviado à imprensa.
Outras mortes
A prefeitura e a polícia já apuram outras duas mortes na mesma unidade. A mais recente, no dia 7 de março, foi a de Rebeca Luiza Ribeiro dos Santos, de 1 ano e 10 meses. Segundo a família, ela apresentava tosse e febre e foi levada a UPA no dia 26 de fevereiro. A médica de plantão receitou um remédio, mas a criança não melhorou.
No dia da morte de Rebeca, ela foi levada novamente a mesma unidade, onde fez Raio-X. Ela foi atendida por outra médica, que trocou a medicação, prescreveu dois remédios e deu alta para a paciente.
Quando voltou para casa, a criança piorou e precisou voltar mais uma vez à UPA. Quando chegou, Rebeca foi atendida novamente pela segunda médica, que receitou três inalações, deu um xarope e a menina recebeu alta de novo.
A família se negou a voltar para casa, já que a criança estava com muita dificuldade para respirar, mas só após 3 horas ela conseguiu ser atendida, mas já era tarde e ela morreu minutos depois. O atestado de óbito indicou morte por parada cardiorrespiratória, broncoespasmos e uma síndrome genética em investigação.
- Atendimentos a menina que morreu foram adequados, diz prefeitura
Na segunda-feira (11), em entrevista, o secretário de Saúde, Djair Cláudio Francisco, e o gerente da UPA da 29, Elber Rodrigues Torres, apresentaram o relatório médico dos atendimentos prestados à Rebeca. Para eles, todos os protocolos foram seguidos.
Em dezembro de 2017, Manuelly Caroline Borges Fávaro, de um ano e cinco meses, morreu depois de ter passado várias vezes pelas Unidades de Pronto Atendimento da 29 e do Cervezão e feito uma consulta particular. O atestado de óbito constatou problemas cardíacos, insuficiência respiratória, pneumonia extensa.