Mulher é morta a facadas pelo ex-marido em distrito de Jaú — Foto: Facebook/Reprodução.

Amiga tentou impedir morte de mulher esfaqueada pelo ex-marido: ‘Pediu para não morrer’

Vítima de 40 anos almoçava na mercearia de uma amiga quando o agressor apareceu no local, em Jaú (SP). Horas antes do crime, a mulher fez um desabafo nas redes sociais sobre casos de feminicídio na região; em 10 dias foram 5 registros.

POTUNDUVA/SP – Uma amiga da mulher de 40 anos que morreu depois de ser esfaqueada pelo ex-marido, em Potunduva, distrito de Jaú (SP), presenciou o crime e tentou impedir que o suspeito matasse Elisangela Fernandes. A vítima foi morta na porta da casa da amiga, Marcia Aparecida Zanata Ramos, na tarde do domingo (24).

Mulher é morta a facadas pelo ex-marido em distrito de Jaú — Foto: Facebook/Reprodução.

Mulher é morta a facadas pelo ex-marido em distrito de Jaú — Foto: Facebook/Reprodução.

Segundo a dona de casa, Elisangela foi até lá para almoçarem juntas e o ex-marido, que mora na mesma rua, passou várias vezes em frente à residência, apesar da vítima ter medida protetiva contra ele.

“Ele ficou rodeando e uma hora chamou ela e disse que queria conversar. Eu falei para ela não ir e disse que ele não era bem-vindo, mas ele insistiu e quando ela saiu no portão, ele já arrastou ela pra rua e começou a dar as facadas”, conta.

Marcia conta que foi tudo muito rápido e que ela tentou conter o suspeito, Moisés Gomes Alves, mas quase foi atingida também.

“Ela só gritava que para ele parar, que ela não queria morrer, pediu para ele: ‘não me mata, Moisés’. Eu tentei separar, mas ele quase me deu uma facada também e depois fugiu. Ela olhou para mim e disse que estava morrendo.”

Elisangela foi socorrida por moradores e levada até a Santa Casa de Jaú, mas não resistiu aos ferimentos.

Horas antes do crime, ela chegou a compartilhar em seu perfil nas redes sociais outros casos de feminicídio na região. Em uma das postagens, ela desabafa que tem medida protetiva, mas é obrigada a ficar em casa.

Segundo o registro da Polícia Civil, Elisangela e Moisés ficaram juntos por nove anos e tinham uma filha de 6 anos. Eles estavam separados havia pouco mais de um ano e, como o homem não aceitava o fim do relacionamento, perseguia e ameaçava a vítima.

O suspeito foi preso em flagrante por feminicídio no mesmo dia do crime em um sítio na zona rural de Jaú após tentar suicídio. Ele confessou o crime, mas a faca utilizada não foi localizada. Além da menina de 6 anos, filha também de Moisés, Elisangela tinha outros 4 filhos.

 Segundo a amiga, a filha do casal está sob os cuidados da irmã de 19 anos, que é a filha mais velha de Elisângela.

Outros casos na região

Nos últimos 10 dias, cinco casos de feminicídio foram registrados no Centro-Oeste Paulista. Além dos casos de Jaú, Pirajuí e Dois Córregos, duas mulheres foram mortas em Agudos e São Manuel.

Na última quinta-feira (21), Silvana Augusto Jesus, de 31 anos, foi esfaqueada e enterrada no quintal da própria casa, em Agudos. O marido dela, Fernando Maroni Goehring, foi preso em flagrante, mas não confessou o crime e vai ser investigado por feminicídio e ocultação de cadáver.

Já no dia 14 de novembro, dez dias antes da morte de Elisangela em Jaú, uma jovem de 22 anos foi assassinada com quatro tiros pelo ex-namorado em São Manuel. Adrielli Rodrigues tinha medida protetiva contra Cristiano Gomes, que não aceitava o fim do relacionamento de seis anos.

Ela tinha acabado de sair da delegacia para denunciar o descumprimento da medida quando foi baleada pelo ex.

Dados alarmantes

A cada dois dias, uma mulher é vítima de feminicídio no estado de São Paulo. Em Bauru, segundo informações do Deinter 4, foram registrados 702 casos de violência doméstica entre janeiro e abril deste ano, o que representa um aumento de 31% comparado ao mesmo período de 2018.

Além disso, 104 foram presos por violência doméstica na cidade entre janeiro e julho deste ano. Destes, 33 permaneceram presos e 71 foram liberados. Um suspeito também foi preso por descumprimento de medida protetiva.

Já em Marília, 89 foram presos no primeiro semestre deste ano por violência doméstica. Destes, 36 permaneceram presos e 53 foram liberados. Além disso, 38 foram presos por descumprimento de medida protetiva.

Em Jaú, 46 foram presos no mesmo período. Destes, 13 permanecem detidos e 33 foram liberados. A cidade também registrou 21 prisões de descumprimento de medida protetiva.

Por fim, em Ourinhos, 56 foram presos por violência doméstica. Destes, apenas 11 permanecem presos e 45 já foram liberados. Dezoito também foram presos por descumprimento de medida protetiva.

De acordo com a delegada Priscila Bianchini, é preciso um trabalho para conscientizar a sociedade a respeito desses casos de violência. Por isso esta segunda-feira (25) é Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, uma data para reforçar a importância desse trabalho de conscientização de todos.

“A sensação que a gente tem é que, quanto mais a mulher busca esse empoderamento, mais alguns homens estão reagindo com violência. A Polícia Civil só age depois que o fato já ocorreu. Esse chamado é para toda a sociedade, para a conscientização, essa desmistificação do machismo que ainda impera na sociedade”, pontua a delegada.

Segundo a delegada, também é necessário rever a legislação brasileira, para que os agressores sejam efetivamente punidos.

“Nós temos uma das legislações melhores do mundo no que tange a violência doméstica, mas nós somos o quinto país que mais mata também, que mais pratica violência contra mulher, então tem que ser analisada a legislação”, completa a delegada.

G1

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