José Maurício Sanches, acusado de aplicar golpes em assentados em vários locais da região de Andradina. Foto: Facebook

Homem é detido acusado de aplicar golpes em assentamentos da região

Ele realizava promessas de liberar habitação e apoio à mulher assentada, que, em contrapartida, tinha que dar uma taxa para ele, além de falsa venda de caixa dágua

CASTILHO – A desinformação e a ambição de famílias assentadas foram fatores preponderantes para a aplicação de golpe por um “estelionatário de profissão” a obter vantagens financeiras em assentamentos de toda a região de Andradina, com a promessa de liberação de crédito habitação no valor de R$ 28 mil, apoio mulher no valor de R$ 4 mil e venda de produtos.

Para dar credibilidade e ganhar a confiança das famílias, o estelionatário José Maurício Sanches vem se apresentando como representante da Caixa Econômica Federal e usando indevidamente o nome do senador da República, Magno Malta (PR/ES), cujo mesmo relata que o parlamentar faria gestão para agilizar a liberação dos recursos financeiros junto ao banco público.

O “vendedor de ilusões”, além de cobrar uma suposta taxa para liberação dos recursos (R$ 10,00), também obtém cópias de documentos pessoais das pessoas e até mesmo dados bancários fornecidos pelas vítimas, onde de posse de tais dados, o falsário poderá aplicar novos golpes utilizando os dados das pessoas atraídas pelas fantasiosas promessas.

A reportagem do O Foco, obteve com exclusividade um dos depósitos feitos ao estelionatário no valor de R$ 1 mil, onde o valor é proveniente do golpe que o mesmo aplicou no assentamento Cachoeirinha no município de Itapura. Informações obtidas por nossa reportagem dão conta que os golpes foram aplicados em ao menos 15 assentamentos federais da região, sempre com a falsa promessa de liberação de crédito habitação e fomento mulher. No assentamento Esperança de Luz em Castilho, o estelionatário foi além, e chegou a vender caixas d`água de 5 mil litros em 3 parcelas de R$ 400, mas nenhum produto foi entregue e algumas famílias que pagaram deverão ficar no prejuízo.

José Maurício Sanches possui diversos processos pelos crimes de estelionato (artigo 171, do Código Penal) e apropriação indébita (artigo 168, do Código Penal), nas Comarcas de Mirandópolis, Araçatuba, Lins, Garça, dentre outras comarcas judiciais.

A farsa começou a ser descoberta na segunda-feira (24/07), em reunião no assentamento Nossa Senhora Aparecida II em Castilho, quando o assentado e secretário de Finanças do Sintraf (Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Andradina), Renato Sérgio Ribeiro Costa, começou a fazer questionamentos sobre a liberação dos recursos e também os documentos que comprovavam que José Maurício Sanches de fato era representante da Caixa – “pedi os documentos dele como representante da Caixa e ele simplesmente caiu em contradição, dizendo que era de empresa terceirizada. Então pedi o contrato ou outro documento que comprovasse o que ele estava dizendo. E novamente ele se esquivou e deixou a reunião, dizendo que voltaria outra hora. Em seguida, liguei para a assessoria do senador Magno Malta, que afirmou não haver nenhum trabalho realizado pelo senador no Estado de São Paulo e não ter nenhuma ligação com José Maurício. Com essas informações passamos a alertar os assentados a não fornecer nenhum documento e não efetuar nenhum pagamento, pois se tratava de golpe” – comentou Renato Sérgio em contato telefônico com a reportagem do O Foco.

Outro a cair no golpe do estelionatário José Maurício Sanches foi o engenheiro civil, Douglas Ferreira de Oliveira, que foi procurado pelo golpista com a falsa proposta de emprego – “fui contratado pelo José Maurício para prestar serviços na elaboração dos projetos, porém ele também vem me enrolando e se quer me trouxe o contrato de prestação de serviço para eu assinar, sempre dando desculpa e ganhando tempo. Estarei abrindo Boletim de Ocorrência contra o mesmo para adoção das medidas judiciais posteriores. Quero deixar claro que também fui uma vítima desse mau caráter e também só estou tomando prejuízos com essa situação” – desabafou o engenheiro civil em contato com nossa reportagem.

Indagada por nossa reportagem, a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal, por meio de Nota esclarece que – “A Caixa Econômica Federal informa que não tem nenhum empregado atuando no contato com as famílias nos assentamentos da região de Andradina, Mirandópolis ou Pereira Barreto e não autoriza nenhum funcionário a oferecer acesso aos programas do Governo Federal mediante recolhimento de tarifas pelo suposto serviço. Informa ainda que o Ministério das Cidades está selecionando propostas de entidades organizadoras por meio do PNHR (Programa Nacional de Habitação Rural) que foram apresentadas até junho deste ano, no entanto, não há nesta fase, solicitação de documentos pessoais dos interessados”.

A assessoria de imprensa do senador da República, Magno Malta, informou a reportagem do O Foco por contato telefônico, que o senador está em viagem ao exterior, mas que sua assessoria já está tomando às medidas legais, acionando a Polícia Federal para investigar o caso, já que envolve um banco público e também comunicando a presidência do Senado Federal para adoção das medidas por meio da Polícia Legislativa, uma vez que o nome do senador foi usado indevidamente e de forma leviana para aplicação de golpe.

A assessoria do senador Magno Malta, afirmou categoricamente o não existe nenhum assessor do parlamentar no Estado de São Paulo e não autoriza nenhuma pessoa em falar em nome do senador sem a devida permissão e que o senador foi informado da situação e ficou indignado com o uso indevido de seu nome.

Já a assessoria de imprensa do INCRA em São Paulo, informou à nossa reportagem que – “O assentado não deve pagar qualquer valor para liberação de crédito habitacional ou de fomento, pois trata-se de golpe. Não existe cobrança para esse tipo de serviço, seja pelo Incra, seja pela Caixa Econômica Federal (CEF), nem autorização para que terceiros o façam nome das referidas instituições; Mediante denúncia do Sintraf ao Incra/SP, a Caixa Econômica Federal de Presidente Prudente nos informou que não tem nenhum funcionário chamado José Maurício Sanches e que eventuais visitas a assentamentos por seu corpo técnico somente são feitas com prévia comunicação ao Incra; O Incra/SP solicita às lideranças dos movimentos sociais que, em casos de dúvidas, entrem em contato com a Superintendência Regional de São Paulo para checar informações e orientem os assentados para que não façam nenhum tipo de pagamento ou declaração de dados pessoais ou bancários; Com relação à liberação de recursos habitacionais informamos que o Incra/SP encaminhou propostas para análise e aprovação do Ministério das Cidades, abrangendo as regiões de Andradina, Pereira Barreto e Itapura, mas ainda está aguardando a resposta do referido Ministério”.

Nossa reportagem tentou contato telefônico com José Maurício Sanches, mas o mesmo não atendeu às ligações. Também foi encaminhada indagações para o mesmo por meio do aplicativo Whatsapp, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos retorno.

Estima-se que o golpe vem sendo aplicado em assentamentos da região a mais de 3 meses e já pode ter lesado mais de 500 pessoas. A Polícia Civil informa que às pessoas que sofreram prejuízos com o golpe, devem procurar a Delegacia de seu município e registrar Boletim de Ocorrência, porém se o número de pessoas por assentamento for elevado, não há necessidade de todos comparecerem, mas apenas 3 representantes com os dados dos demais e registrar o Boletim de Ocorrência coletiva.

Na manhã desta sexta-feira (28/07), José Maurício Sanches deveria estar no assentamento Nossa Senhora Aparecida II, para buscar dinheiro objeto do golpe, porém já cientes da situação os assentados convidaram outras vítimas do golpe de outros assentamentos para tentar dar o flagrante no golpista.

Para o azar de José Maurício Sanches, um grupo de assentados vítimas do “gatuno” se depararam com o mesmo nas dependências da Rodoviária de Castilho, uma vez que o mesmo havia pedido para alguém do assentamento ir busca-lo no local, que segundo o sujeito, seu carro teria quebrado no caminho. O estelionatário ao avistar suas vítimas tentou “dar pinote”, mas foi alcançado e agredido.

A Polícia Militar foi acionada e conduziu o meliante ao Hospital Municipal “José Fortuna” para receber atendimento médico do suposto ferimento da agressão (um soco) e posteriormente foi conduzido à Delegacia de Castilho, onde foi lavrado o Boletim de Ocorrência e José Maurício Sanches foi liberado para responder em liberdade.

O FOCO

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