Da esq. para a dir., os atores Julio Machado e Isabel Zuaa, o diretor Marcelo Gomes e o ator Welket Bungue, de "Joaquim", no tapete vermelho do Festival de Berlim (Foto: AP Photo/Markus Schreiber).

Cineastas brasileiros dizem em Berlim que governo ameaça cultura do país

Diretor de ‘Joaquim’ leu carta à imprensa pedindo apoio em ‘luta para proteger políticas’ culturais. Documento foi assinado por 300 personalidades e profissionais do cinema.

Cineastas brasileiros disseram nesta quinta-feira (16), no Festival de Berlim, que a cultura do país está ameaçada pelo governo “ilegítimo” do presidente Michel Temer. O diretor Marcelo Gomes, de “Joaquim”, que concorre ao Urso de Ouro, leu um texto para a imprensa, pedindo o apoio da comunidade internacional do cinema.

Da esq. para a dir., os atores Julio Machado e Isabel Zuaa, o diretor Marcelo Gomes e o ator Welket Bungue, de "Joaquim", no tapete vermelho do Festival de Berlim (Foto: AP Photo/Markus Schreiber).

Da esq. para a dir., os atores Julio Machado e Isabel Zuaa, o diretor Marcelo Gomes e o ator Welket Bungue, de “Joaquim”, no tapete vermelho do Festival de Berlim (Foto: AP Photo/Markus Schreiber).

LEIA MAIS: Filme sobre Tiradentes mostra Brasil ‘precário’ refletido ainda hoje, diz diretor de ‘Joaquim’

Esta é uma “carta de alerta ante a crise democrática que estamos vivendo”, disse à France Press o cineasta. O governo “fez mudanças terríveis nas áreas social e educacional. Os avanços que tinham sido feitos eles retiraram, e agora vai acontecer o mesmo [com a cultura] se não gritarmos”, acrescentou.

A carta lida após a exibição de “Joaquim” na mostra é assinada por 300 personalidades e profissionais do cinema, em sua maioria brasileiros. O Brasil está representado no Festival de Berlim por cerca de 15 filmes, e entre os que assinaram o documento estão os diretores Fabio Meira (“As duas Irenes”), Davi Pretto (“Rifle”) e Lais Bodanzky (“Como nossos pais”).

Ancine

Os diretores pediram o apoio da comunidade cinematográfica na sua “luta para proteger as políticas” culturais adotadas durante governos anteriores. Mostraram-se especialmente preocupados com as próximas nomeações para a Agência Nacional de Cinema (Ancine), cujo trabalho nos últimos anos foi elogiado pelos cineastas.

“Os resultados são visíveis: 27 filmes foram selecionados” nos primeiros festivais internacionais do ano e o setor audiovisual cresceu 8,8% em 2016, muito acima da economia nacional, ressalta a carta. Eles destacaram, ainda, que a Ancine permitiu que se desse voz à diversidade étnica, racial, cultural e religiosa do país.

‘Chamado à resistência’

“Vivemos em um momento muito complexo e muito inseguro”, insistiu Gomes em entrevista à France Press, que comparou a atualidade brasileira com seu filme baseado na figura histórica de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que lutou contra o colonialismo português no século XVIII.

O diretor desconstrói esse herói nacional, interpretado pelo ator Julio Machado, para mostrar um perfil humano e ressaltar que qualquer um é “capaz de um ato heroico”. “É um chamado à resistência, para uma sociedade mais justa”, disse.

Tiradentes foi um soldado da coroa portuguesa que passou para o lado revolucionário. Entre a história e a ficção, Gomes mostra como os heróis se formam por acidentes da vida, e imagina que Tiradentes se transformou por amor, ao se apaixonar por uma escrava, interpretada por Isabél Zuaa.

O primeiro filme de Gomes, “Cinema, aspirinas e urubus”, foi apresentado em Cannes em 2005. O júri do Festival de Berlim anunciará neste sábado (18) o ganhador do Urso de Ouro, prêmio pelo qual compete também outro filme latino-americano, “Uma mulher fantástica”, do chileno Sebastián Lelio.

G1

Comments are closed.

error: Solicite a matéria por email!