Advogado Walmir Oliveira da Cunha perdeu três dedos após receber uma bomba, em Goiânia (Foto: Sílvio Túlio/G1).

Irmãos acusados de enviar bomba a advogado enfrentam júri popular em Goiânia

Com a explosão, vítima perdeu três dedos da mão. De acordo com o processo, crime foi cometido por vingança, pois profissional ganhou uma ação contra os réus.

GOIÂNIA/GOOs irmãos e policiais federais aposentados Ovídio e Valdinho Rodrigues Chaveiro, acusados de tentativa de homicídio ao mandar uma bomba para o advogado Walmir Oliveira da Cunha, de 37 anos, enfrentam o júri popular nesta quinta-feira (30), em Goiânia. O Ministério Público aponta que o crime foi cometido em represália a atuação de Walmir em um processo no qual um dos réus se sentiu prejudicado. A defesa afirma que os acusados são inocentes.

Advogado Walmir Oliveira da Cunha perdeu três dedos após receber uma bomba, em Goiânia (Foto: Sílvio Túlio/G1).

Advogado Walmir Oliveira da Cunha perdeu três dedos após receber uma bomba, em Goiânia (Foto: Sílvio Túlio/G1).

O atentado aconteceu no dia 15 de julho de 2016, quando o Walmir recebeu um pacote de uma bebida em seu escritório, mas o conteúdo explodiu assim que foi aberto. Um segurança que trabalhava em um estabelecimento próximo ao local socorreu o advogado. A vítima perdeu três dedos e quebrou o pé por causa da explosão. Os acusados foram presos meses após o crime.

A sessão é presidida pelo juiz Lourival Machado da Costa, da 2 vara de crimes dolosos conta a vida. Centenas de pessoas formaram uma fila na entrada da sala para poderem acompanhar o julgamento.

A promotora de Justiça Renata Marinho disse que há evidências claras de autoria nos autos, além dos relatos de testemunhas, suficientes para pedir a condenação dos irmãos pelo crime de tentativa de homicídio triplamente qualificada.

“Minha expectativa é que haja a condenação. A sociedade não pode aceitar esse tipo de coisa. Essa tentativa afronta não só a vida humana, mas vulnera qualquer pessoa que esteja trabalhando, seja ela advogado, promotor ou qualquer outra profissão que você desagrada alguém. É um atentado contra toda a sociedade”, afirma.

Já o advogado Maeterlin Camarço, que representa os irmãos, negou todas as acusações. Ele afirmou que não há provas consistentes que incriminem seus clientes e que, caso haja condenação, o tribunal estará cometendo um erro.

“A inocência dos acusados é evidente. É lamentável o que ocorreu com a vítima, mas o responsável por esse crime não está aqui no banco dos réus. Os irmãos Chaveiro são inocentes”, disse.

Reabilitação

Walmir explicou que o crime ocorreu por conta de um processo no qual representou um homem no processo de guarda do filho e ganhou a causa. A criança é neta de Valdinho, que ficou insatisfeito e planejou a entrega da bomba, executada por seu irmão, Ovídio. O pacote foi entregue a um motoboy, o qual ficou comprovado agir sem saber do caso e, por isso, não foi responsabilizado.

O advogado conta que até hoje, dois anos após o crime, ainda faz sessões de fisioterapia. Ele diz que demorou a se readaptar, mas que em momento algum pensou em parar de seguir na profissão.

“Em 90 dia eu comecei a fazer a fisioterapia, mas só me readequei à minha nova condição uns seis meses depois. Foi quando voltei a caminhar, pois tive uma fratura no pé. Nesse período, contratei um digitador para fazer minhas petições. Não é só um crime contra um advogado, mas sim conta todo o estado democrático de direito”, destaca.

O presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB, Davi da Costa Júnior, viajou a Goiânia especialmente para acompanhar o julgamento.

“Acompanhamos o caso desde o dia do fato. O interesse da OAB é a elucidação para que outros casos não voltem a acontecer porque a advocacia não pode ser afrontada dessa forma”, avalia.

Investigação

Câmeras de segurança flagraram a movimentação de um homem que entregou o pacote para um motoboy, que o levou até o advogado. Segundo as investigações, o motoboy não tinha consciência do atentado e foi por meio do depoimento dele que a corporação chegou até o local e às imagens.

Através das gravações, a Polícia Civil chegou até os irmãos, que foram presos em dezembro de 2016. De acordo com as investigações, o crime foi cometido por vingança, já que o advogado ganhou uma ação que causou revolta nos investigados. Ovídio, então, entregou a bomba para que um motoboy levasse ao escritório da vítima.

Após a prisão dos suspeitos, a vítima falou sobre as ameaças que recebeuenquanto atuou na ação familiar. “Percebi que esse seria o desfecho quanto a autoria desse atentado, sobretudo diante da forma que essas partes [suspeitos] se comportaram durante a tramitação da ação, de maneira muito intimidadora, com ameaças veladas, com ameaças inclusive a autoridade judicial. Eles devem receber as punições previstas em lei, pois ali foi um crime hediondo”, disse Walmir.

A Polícia Civil divulgou laudos periciais que, segundo a corporação, comprovam que Ovídio foi o responsável por enviar a bomba ao advogado. O relatório foi feito com bases em imagens de câmeras de segurança que mostram um homem entregando o pacote ao motoboy. No entanto, a advogada de defesa do suspeito, Débora Rassi, contesta o laudo da polícia.

Na época em que a Justiça determinou que os irmãos fossem a júri popular, a defesa disse à TV Anhanguera que pediu um parecer técnico com um perito em Curitiba, e que, com base nas imagens do suspeito, foram feitas réplicas das orelhas, em material sintético, tanto do motoboy quanto de Ovídio, para comprovar que não se tratam das mesmas pessoas.

G1

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