A polícia encontrou os corpos no domingo (6) em Mogi das Cruzes. Foto: Hélio Torchi/Estadão Conteúdo

Chacina de jovens começou a ser planejada em velório de guarda, diz polícia

MOGI DAS CRUZES – A delegada Elisabete Sato, chefe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), disse na sexta-feira (11) que, baseado no depoimento do guarda civil de Santo André Rodrigo Gonçalves de Oliveira, a chacina que vitimou cinco jovens, encontrados mortos em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), começou a ser planejada no velório de outro guarda civil, em setembro.

Oliveira, que teve a prisão temporária decretada na noite de quinta-feira (10), é instrutor de tiros e era colega do agente Rodrigo Lopes Sabino, 30, morto em um assalto no dia 24 de setembro no Jardim Ana Maria, em Santo André (Grande São Paulo), localidade próxima à região onde moravam as vítimas.

Segundo a polícia, as cápsulas calibre 38 e 12 encontradas nos corpos das vítimas são de uso da guarda municipal, o que reforça a ligação.

Jones Ferreira Araújo, 30, César Augusto Gomes, 19, Jonathan Moreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, desapareceram no dia 21 de outubro no Jardim Rodolfo Pirani, na zona leste de São Paulo.

Os corpos foram encontrados no domingo (6), em uma área rural de Mogi das Cruzes, em estado avançado de decomposição, enterrados em covas rasas e cobertos com cal. O último corpo foi identificado hoje. As vítimas devem ser enterradas amanhã, no Cemitério de Vila Alpina (zona leste de São Paulo).

A chacina tem características de execução, segundo o ouvidor das Polícias de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves. Os tiros foram dados na cabeça e na nuca de quatro vítimas. Havia cápsulas de balas calibre .40 (de uso exclusivo e lote comprado pela Polícia Militar), ao lado das covas.

Os corpos continham balas calibres 38 e 12. Robson, que era cadeirante, foi morto a facadas. Um dos jovens estava com os pulsos amarrados. Outra vítima estava sem a cabeça.

Segundo o DHPP, o guarda Oliveira foi entrevistado por várias horas na quinta. Ele está há 17 anos na corporação municipal. Como instrutor de tiro, ele dá aula para os guardas novatos. Ele disse que Sabino havia sido aluno seu e com ele mantinha relacionamento estreito.

“Tomamos conhecimento de um dos familiares [das vítimas da chacina] que dois deles teriam participado de um latrocínio de um guarda de Santo André. Eles também haviam praticado um roubo contra um policial militar reformado”, disse Sato.

“Até aquele momento, não tínhamos direcionamento efetivo ou linha clara de investigação. Nos reunimos com a guarda de Santo André e começamos a investigar o latrocínio do Sabino. Quando houve o sepultamento dele, vários guardas e amigos policiais e não policiais se encontraram e ali houve comoção generalizada. Com a identificação desse guarda [Oliveira], ele disse que no dia do velório todos se apresentavam para ele, entregando o número de celular e colocando-se à disposição [para orquestrar a vingança]”, afirmou Sato.

Segundo ela, após o assassinato, Oliveira e sua equipe, responsável pelas rondas de segurança em Santo André, saíram buscando o carro roubado de Sabino, que tinha um GPS. O encontraram incendiado no Jardim Rodolfo Pirani, bairro dos jovens.

Lá, receberam a informação de que sabiam quem tinha praticado o latrocínio contra o guarda. Deu dois apelidos, Pirata e Buiú –de Caíque e César, respectivamente. O informante passou os nomes que os dois utilizavam nas redes sociais.

Guarda confessou a emboscada, diz polícia

Oliveira confessou ao DHPP toda a emboscada, inclusive a propriedade do perfil falso de uma mulher que atraiu os garotos. Sob o codinome Terezinha –ele possuía essa conta fake há mais de um ano, segundo a polícia–ele solicitou a amizade dos dois e passou a se corresponder com Caíque e Cesar.

“Marcou um churrasco no fim de semana, em um sítio em Ribeirão Pires, com cerveja, música. Falou: ‘leva uns amigos, porque também vou levar umas amigas’. E os meninos foram atraídos”, disse Sato.

O guarda, na versão declarada para a polícia, foi para lá sozinho. Ficou até 1h de sábado e disse não ter visto os garotos chegarem. Disse ter ido embora, mas não para casa –disse que havia um encontro com uma garota. Oliveira assume a emboscada, mas não o assassinato dos garotos, o que a polícia diz acreditar ser como pouco provável.

“É inverossímil na nossa investigação que ele não assuma a execução do garoto, mas só até o momento que os meninos foram atraídos. (…) As investigações continuam porque o caso não está encerrado. Ainda há perícias para serem terminadas e estamos avançando bastante”, afirmou Sato na coletiva.

Oliveira tem dois autos de resistência na ficha criminal –designação para quando há enfrentamento com morte com suspeitos de crimes. Dos garotos encontrados mortos, apenas Jones não tinha passagem pela polícia –os demais já haviam sido indiciados por furtos, roubo de carros, receptação e porte de entorpecentes, mas nunca por homicídios.

O guarda disse que queimou o computador e o celular com que se correspondia com as vítimas. “Ele disse que se perdeu no meio do caminho e ficou assustado, porque sabia que a polícia chegaria até ele. A intenção, disse ele, era encaminhá-los para a delegacia”, diz Sato.

Na sexta-feira, mais dois guardas foram ouvidos pelo DHPP. A delegada Sato diz acreditar que o crime foi cometido por mais de uma pessoa, pela complexidade do que foi encontrado.

“A autoria do crime já tem um início de desvendamento”, disse o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves.

“Já temos um guarda civil com prisão temporária decretada pelo juiz de Mogi das Cruzes. Outras diligências estão sendo realizadas. Ainda é cedo para afirmar que está totalmente desvendado o crime, outras pessoas já estão prestando depoimento, visando à apuração de sua participação nesses homicídios.”

UOL

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