Marcas de tiros em casa no Fallet — Foto: Thathiana Gurgel/Defensoria Pública.

RJ teve 38 tiroteios com 3 mortos ou mais em 2019; polícia esteve envolvida em 28, aponta laboratório de dados

Ocorrências resultaram em 149 mortos; 112 deles morreram em operação policial. Informações foram compiladas pela plataforma Fogo Cruzado.

RIO DE JANEIRO/RJ – O Estado do RJ teve, no primeiro semestre deste ano, 38 tiroteios com três mortos ou mais. Este número supera o registrado no mesmo período do ano passado: 37.

Marcas de tiros em casa no Fallet — Foto: Thathiana Gurgel/Defensoria Pública.

Marcas de tiros em casa no Fallet — Foto: Thathiana Gurgel/Defensoria Pública.

Segundo a plataforma Fogo Cruzado, a cujos dados o G1 teve acesso, a polícia esteve presente na maioria dos casos do primeiro semestre: foram 28 das 38, ou 73%. De janeiro a junho do ano passado, das 37 ocorrências com três mortes ou mais, a polícia participou de 21, ou 56%.

Comparando os dois anos, a participação da polícia nessas ações subiu 17 pontos percentuais.

Dos 149 mortos apontados pelo levantamento do Fogo Cruzado, 112 morreram no momento em que havia operações ou ações policiais.

“O que chama a atenção é que a gente teve um aumento significativo, de 33%, na participação de agentes de segurança nesses casos, em relação ao ano passado. Isso é bastante preocupante e dialoga com o aumento dos casos de morte por intervenção legal, que vem sendo divulgado pelo ISP”, analisou a gestora da plataforma, Maria Isabel Couto.

O número, como mostrou o G1, é o maior registrado nos últimos 20 anos.

Outras 37 pessoas morreram em episódios classificados como execução, homicídio, ataque a civis ou chacinas. Dois policiais ficaram feridos nas ocorrências.

Mais feridos

A chacina no Bar do Peixe em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que levou pânico aos frequentadores e moradores da região no último sábado (29), foi a maior em todo o estado em 2019. No total, foram 17 vítimas: 13 feridos e quatro mortos.

A plataforma Fogo Cruzado registrou o aumento do número de feridos em ataques a tiros com três vítimas ou mais. De janeiro a junho de 2018, foram 13. O número subiu para 50 (48 civis e dois policiais) no mesmo período de 2019, um aumento de 269%.

Na comparação entre os mesmos períodos, os números indicavam 146 mortos em 2018 e 149 em 2019.

No total, juntando mortos e feridos, foram 159 vítimas em 2018 e 199 em 2019 – um aumento de 25%.

A gestora da plataforma, Maria Isabel Couto, lembrou de chacinas com alto número de feridos em várias regiões da cidade. Segundo a plataforma, policiais da Divisão de Homicídios e especialistas em segurança, a definição de chacina é utilizada quando três ou mais pessoas são assassinadas ao mesmo tempo.

“Este ano tivemos muitos feridos, como em São Gonçalo em maio, a de Belford Roxo no último sábado, um caso em Costa barros que terminou com 3 mortos e 5 feridos, alem do caso de São Gonçalo com 9 mortos e 4 feridos “, enumerou ela. Encontrar as razões disso, no entanto, é complicado, segundo ela.

“É difícil dizer porque isso está acontecendo, mas pode ser que sejam pessoas com pouca prática, ou sem a intenção de matar determinadas pessoas, mas sim assustar. Pode ser que sejam grupos muito especializados que podem fazer isso para gerar dúvida e atrapalhar as investigações”, ponderou.

Foram 37 registros no aplicativo, o que significa uma chacina a cada cinco dias nos primeiros seis meses do ano.

Rio com mais registros

De 1 de janeiro até sábado (29), o município do Rio registrou 15 eventos com três ou mais mortes, com 67 mortos e 14 feridos. Belford Roxo, com cinco registros, incluindo a de sábado, apresentou 19 mortos e 13 feridos. São Gonçalo, na Região Metropolitana, teve 16 mortos e 10 feridos.

Até o final de junho, foram seis registros em São Gonçalo, sendo que uma dessas chacinas, na divisa com Itaboraí, deixou 9 mortos e quatro pessoas feridas. A Divisão de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí investiga o caso e a relação das mortes com a atuação da milícia na região.

Nos mesmos períodos dos dois anos, Belford Roxo aparece como a segunda cidade mais violenta; 20 mortos em 2018, 19 em 2019. A diferença é o número de feridos, com 1 em 2018 e 13 em 2019.

Há diferença também na terceira colocação. Em 2018, o terceiro município com mais vítimas registradas em chacinas, entre mortos e feridos, foi Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com 17 mortes e uma pessoa ferida, em quatro chacinas com mais de três mortes registradas.

Investigação de crimes em Belford Roxo

A vítima principal da chacina em Belford Roxo, segundo a Polícia Civil, seria um ex-miliciano que se aliou tráfico de drogas, Luiz Gustavo de Lima Nascimento, conhecido como Balrog. A Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense investiga o caso e a possibilidade de o crime ter sido motivado por uma disputa entre tráfico e milícia.

Até então, o caso com mais vítimas havia sido a chacina de fevereiro, quando 13 morreram e uma pessoa ficou ferida durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) nas favelas Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa, no Centro do Rio.

A operação está sob suspeita da Defensoria Pública, que ouviu relatos de execução, tortura e mutilação dos corpos. À época, a Polícia informou que a perícia confirmava a versão de policiais de terem reagido a “injusta agressão”.

Parentes das vítimas dizem que os suspeitos foram mortos depois de estarem rendidos.

Um relatório da Polícia Civil identificou ao menos 128 perfurações por tiros em paredes, telhado, escadas, porta e janela do imóvel na Rua Eliseu Visconti. Na época, o governador Wilson Witzel elogiou a ação policial.

O que diz a polícia

Procurada, a secretaria de Polícia Militar afirmou que a corregedoria do órgão acompanha as investigações das mortes no Fallet/Fogueteiro. A secretaria acrescentou ainda que “as operações da Polícia Militar do Rio de Janeiro são pautadas por planejamento prévio e executadas dentro da lei”.

De acordo com a corporação, durante ações em áreas conflagradas, a prioridade é “primordialmente a prisão de criminosos e apreensão de arma e drogas”. A nota é finalizada com a estatística de que 260 fuzis foram apreendidos em operações até o dia 2 de julho.

Questionada pelo G1 sobre os inquéritos das chacinas de São Gonçalo e Itaboraí em janeiro e do Fallet/Fogueteiro, no mês seguinte, a Secretaria de Polícia Civil respondeu que as duas investigações estão em andamento.

A pasta também afirmou que os dados a respeito de homicídios no Estado do Rio são divulgados pelo Instituto de Segurança Pública.

G1

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