Imagem que circula nas redes sociais mostra Ítalo dentro do carro que furtou após ter sido baleado pela PM em 2016 (Foto: Reprodução/Redes sociais).

‘Arrancaram o olho do meu neto à bala’, diz avó sobre PMs acusados de matar menino de 10 anos em SP

Manicure falou ao G1 sobre denúncia do MP contra 5 policiais no caso do menino Ítalo, morto com um tiro na cabeça após perseguição quando furtou carro em 2016.

SÃO PAULO/SPA declaração acima foi dada nesta semana ao G1 pela manicure Zenaide de Jesus Siqueira, de 59 anos, ao comentar a denúncia do Ministério Público (MP) de São Paulo contra cinco policiais militares acusados no caso da morte de Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira.

Imagem que circula nas redes sociais mostra Ítalo dentro do carro que furtou após ter sido baleado pela PM em 2016 (Foto: Reprodução/Redes sociais).

Imagem que circula nas redes sociais mostra Ítalo dentro do carro que furtou após ter sido baleado pela PM em 2016 (Foto: Reprodução/Redes sociais).

O menino foi morto com um tiro na cabeça aos 10 anos de idade durante perseguição policial após ter furtado um carro com um amigo de 11 anos. Ítalo dirigia um veículo Terios Daihatsu e seu colega, que estava no banco traseiro, não foi ferido.

Os agentes alegaram que atiraram para se defender após serem recebidos a tiros, mas laudo pericial concluiu que não teve disparo de dentro do veículo na direção das viaturas e motos da Polícia Militar (PM). Os disparos foram feitos de fora. Após essa informação, eles disseram que dispararam ao ver um clarão.

O crime ocorreu em 2 de junho de 2016, na região do Morumbi, área nobre da Zona Sul da capital paulista. Parte da ocorrência foi registrada por câmeras de segurança.

Acusação

Na quarta-feira (29), a Promotoria acusou dois agentes da Polícia Militar de participarem diretamente do assassinato de Ítalo. Eles também deverão responder a acusação de terem alterado a cena do crime, com mais três PMs, para simular um suposto confronto.

“Eu acho assim: quando uma pessoa está para fazer uma coisa errada, prende. O menino não estava no carro?”, indaga a avó de ítalo, Zenaide. “Desse tiro no pneu. O carro tinha pneu. Desse tiro de pneu, mas não desse um tiro no olho do meu neto. Para que fizeram aquilo com meu neto?”

O promotor Fernando César Bolque acusou os policiais Otávio de Marqui e Israel Renan Ribeiro da Silva por homicídio doloso (com intenção de matar), e Daniel Guedes Rodrigues, Lincolnl Alves e o soldado identificado apenas como Adriano por fraude processual. O MP também acusou Otávio e Israel pela fraude. Não foi pedida a prisão dos PMs, que respondem ao crime em liberdade e estão trabalhando normalmente.

Até a tarde desta sexta-feira (31) a Justiça ainda não havia decidido se aceitava ou não a denúncia. Se aceitar, os acusados se tornam réus no processo. Todos os agentes respondem aos crimes em liberdade.

‘Justiça’

“Agora vamos ver como é que vai ser. Se vai ter Justiça mesmo sobre esse caso. Se vai ficar por isso mesmo”, diz Patrícia Dias Siqueira, de 39 anos, sobre o caso do sobrinho.

O garoto se dividia entre a casa da avó e a residência da tia, onde é possível ver a frase ‘eterno Ítalo’ na porta do quarto onde ele dormia.

Avó e tia se dividiam na criação de Ítalo na Favela do Piolho, também na Zona Sul, já que os pais do garoto costumavam ficar presos após cometerem crimes recorrentes.

“Na época, a mãe dele estava presa. Aí a gente ficou cuidando dele até ela sair”, conta Patrícia sobre a ex-cunhada, Cintia Ferreira Francelino, de 31, que já cumpriu penas por furto. A reportagem não conseguiu encontrar a mãe de Ítalo para comentar o assunto.

“O pai dele continua preso. Está para sair este ano”, diz a tia sobre o irmão dela, Fernando de Jesus Siqueira, detido por tráfico de drogas. O G1 não encontrou a defesa dele para falar.

Cintia e Fernando não estão mais juntos. Ítalo tem mais seis irmãos, de outros relacionamentos de seus pais, segundo os parentes.

“O Ítalo tem todo um histórico de abandono, negligência e violações de direitos. Foi criado praticamente sem a presença do pai e da mãe, com apoio dos tios e da avó”, afirma o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Infância e Juventude do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe).

Segundo Ariel, o garoto passou por conselhos tutelares na infância. Dos 6 aos 7 anos morou sozinho nas ruas e até dentro de uma van. Não frequentava a escola e depois passou a pedir trocados em semáforos e no Aeroporto de Congonhas, onde foi engraxate.

“É um caso emblemático da falência das políticas sociais de atendimento às crianças e adolescentes em situação de risco. Quando as famílias, o estado e a sociedade excluem, a criança acaba se incluindo na criminalidade.”

Ítalo e o amigo que invadiram um prédio da Zona Sul para furtar o automóvel já tinham se envolvido antes em outros cinco delitos: invasão à residência, fuga de abrigo, ameaça, furto e dano ao patrimônio.

“Eu coloquei o menino na creche, coloquei na escola. E eu falhei aonde nisso aí?”, diz Zenaide, a avó, enquanto mostra a cama dentro do barraco de madeira onde Ítalo ficava quando não estava na rua. “Eu falava para ele não fazer coisa errada.”

“Bate uma saudade tão grande”, conta a manicure que disse ter dado todas as fotos e pertences do neto para não chorar mais. Segundo ela, Ítalo se tratava com médicos para controlar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). “Ele tomava remédio porque era agitado”.

Defesa diz que não há dolo

Procurada pelo G1, a defesa dos agentes acusados contestou a denúncia.

“Espanta o oferecimento desta denúncia. São inocentes e em nenhum momento tiveram a intenção de matar. Não há dolo. E se não há dolo não há homicídio. Só acertou a cabeça de uma criança porque não era um adulto”, disse o advogado Marcos Manteiga. “Não houve fraude processual porque o garoto foi socorrido com vida”.

Os PMs ainda disseram não saber que dentro do carro estavam duas crianças infratoras. Os PMs Otávio, que estava na motocicleta, e Israel, que havia saído da viatura, atiraram. Segundo eles, Ítalo dirigia o carro e estava armado com revólver calibre 38.

A bala que atingiu Ítalo, por sua vez, partiu da arma de Otávio, mas, para a Promotoria, Israel também contribuiu para a morte do menino. “Bem como prestar auxílio moral ao denunciado Otávio Marqui, na medida em que sua presença ostensiva, instigou-o à conduta delituosa acima mencionada”, escreveu o promotor Bolque na denúncia.

Os demais PMs, em companhia dos agentes que dispararam, também foram acusados de retirar a suposta arma que estaria com Ítalo, e de disparar com ela para induzir a investigação e a Justiça a erro de que teria ocorrido uma troca de tiros.

Em 2017, as investigações de policiais civis e da Corregedoria da Polícia Militar haviam concluído que a ação dos agentes no caso do menino Ítalo foi legítima. De acordo com o relatório final, os PMs atiraram e o menor foi morto numa troca de tiros durante perseguição a um carro furtado.

Mas ainda no ano passado, o Ministério Público não concordou com a conclusão do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que não responsabilizou nenhum dos policiais pela morte do garoto, e devolveu o inquérito para que o caso fosse investigado novamente.

Áudio da Centro de Operações da PM (Copom) com gravação da conversa com os policiais também faz parte da investigação. Na mesma gravação de voz, o Copom chegou a pedir para os policiais evitarem confronto.

Em 2017, as investigações de policiais civis e da Corregedoria da Polícia Militar haviam concluído que a ação dos agentes no caso do menino Ítalo foi legítima. De acordo com o relatório final, os PMs atiraram e o menor foi morto numa troca de tiros durante perseguição a um carro furtado.

Mas ainda no ano passado, o Ministério Público não concordou com a conclusão do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que não responsabilizou nenhum dos policiais pela morte do garoto, e devolveu o inquérito para que o caso fosse investigado novamente.

Áudio da Centro de Operações da PM (Copom) com gravação da conversa com os policiais também faz parte da investigação. Na mesma gravação de voz, o Copom chegou a pedir para os policiais evitarem confronto.

G1

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