Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, preso na 42ª fase da Lava Jato nesta quinta-feira (27). Foto: G1

Alvo da Lava Jato, Bendine tinha passagem comprada para Portugal, diz MPF

Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras é suspeito de receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht.

SOROCABA – Preso na 42ª fase da Lava Jato nesta quinta-feira (27) , o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine tinha uma passagem de ida para Portugal. A viagem estava marcada para esta sexta-feira (28), descobriu o Ministério Público Federal (MPF) após quebra do sigilo telefônico do suspeito.

Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, preso na 42ª fase da Lava Jato nesta quinta-feira (27). Foto: G1

Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, preso na 42ª fase da Lava Jato nesta quinta-feira (27). Foto: G1

“É importante destacar que o MPF encontrou apenas a passagem de ida, não significa que não havia a passagem de volta”, afirmou Athayde Ribeiro Costa, procurador da República, em entrevista à imprensa em Curitiba.

Ao detalhar a 42ª fase da operação, Costa afirmou que vários fatores justificaram a prisão temporária de Bendine, que ocorreu em Sorocaba (SP). Entre eles, está o fato de haver indícios de cometimento de crimes após a deflagração da Lava Jato e também o fato de Bendine ter nacionalidade italiana. “Todos esses fatos foram levados em conta. […] É concreto o risco à ordem pública”, disse Costa.

O delegado Igor Romário de Paula criticou a divulgação de delações. Ele disse que este pode ter sido um dos motivos da compra da passagem para Portugal.

O MPF afirma que, quando comandava o Banco do Brasil, Bendine pediu R$ 17 milhões à Odebrecht para rolar uma dívida da empresa com a instituição, mas não recebeu o valor. Na véspera de assumir a Petrobras, teria pedido mais R$ 3 milhões para não prejudicar os contratos da estatal com a empreiteira, segundo delação de ex-executivos. O valor foi pago em 2015.

Obstrução de Justiça

Segundo o procurador, também há evidências de que os outros dois alvos dessa operação tentaram apagar provas e obstruir a Justiça. Um deles, André Gustavo Vieira da Silva, foi detido em um aeroporto no Recife. Ele viajaria para Brasília. Foi preso ainda o irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior. Os dois são sócios em uma agência de publicidade, chamada Arcos, e são apontados como operadores da propina.

“André Gustavo e Antônio Carlos, ainda em conluio com Bendine, teriam praticado em 2017 atos que caracterizam lavagem de ativos e obstrução das investigações. O produto do crime até o momento não foi recuperado”, afirmou Athayde Ribeiro Costa ao justificar os pedidos de prisão.

Segundo as investigações, neste ano, um dos operadores confirmou que recebeu dinheiro da Odebrecht, mas tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à empreiteira, para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil. No entanto, a investigação revelou que a empresa usada pelo operador era de fachada.

Prisões

Os três suspeitos foram presos temporariamente. A prisão tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo ou convertida para preventiva, que é quando o investigado não tem prazo para deixar a cadeia.

A força-tarefa da Lava Jato chegou a pedir a prisão preventiva, entretanto, o juiz Sérgio Moro não a autorizou. “A imposição da prisão temporária viabilizará o melhor exame dos pressupostos e fundamentos da preventiva após a colheita do material probatório na busca e apreensão e após a oitiva dos investigados”, argumentou o juiz.

Bendine deve chegar à Superintendência da POlícia Federal em Curitiba por volta das 14h desta quinta. Os irmãos Silva devem chegar à capital paranaense por volta das 19h.

Braço-direito de Dilma

Em 2015, Bendine era braço direito da então presidente Dilma Rousseff. E havia deixado o banco com a missão de acabar com a corrupção na petroleira, alvo da Lava Jato. Mas, segundo delatores da Odebrecht, ele já cobrava propina no Banco do Brasil e continuou cobrando na Petrobras.

Segundo as investigações, Bendine usava o nome de Dilma em negociações, mas a polícia não encontrou nenhum indício de envolvimento da ex-presidente nesse esquema.

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“As provas de que o presidente da Petrobras, nomeado para acabar com a corrupção na companhia, são realmente de assustar todos nós.” Athayde Ribeiro Costa, procurador da República

“É indignante que, durante o escândalo na Petrobras, pessoas utilizavam a companhia para praticar cirmes e aferir recursos. Bendine veio do Banco do Brasil, foi para a Petrobras e, segundo as provas, havia pedido de propina”, disse o procurador.

Propina no Banco do Brasil

No despacho que autorizou a 42 ª fase da Operação lava Jato, o juiz Sergio Moro mencionou parte da colaboração de Luiz Ayres da Cunha Santos, presidente da Odebrecht Ambiental.

Santos afirmou que André Gustavo Vieira da Silva se apresentou como representante de Aldemir Bendine em uma conversa sobre o alongamento de dívida da Odebrecht Agroindustrial. Ele disse, conforme a delação, que o então presidente do Banco do Brasil exigia um “pedágio” para aprovação de do crédito e do pagamento.

“Inicialmente, ainda naquele encontro, ele falava em percentuais na ordem de 2% a 3%, o que daria algo entre R$ 58 e R$ 87 milhões. Posteriormente, em negociação, foi solicitado por André Gustavo Vieira da Silva um valor somente de dezessete milhões de reais”, diz trecho do despacho.

O valor não foi pago porque Marcelo Odebrecht teria avaliado que o pagamento não influenciaria o alongamento da dívida da Odebrecht Agroindustrial.

Informações privilegiadas

Ainda conforme Fernando Luiz Ayres da Cunha, depois que Bendine assumiu a presidência da Petrobras, houve encontros entre ele, André Silva e o próprio Bendine. Além disso, a empresa começou a receber informações privilegiadas sobre a petrolífera.

“Afirma Fernando Luiz Ayres da Cunha que passou a receber informações privilegiadas e confidenciais da Petrobras por meio de André Gustavo Vieira da Silva”.

Conforme o despacho, já na posição de presidente da Petrobras, por meio de André Gustavo Vieira da Silva, Bendine voltou a pedir propina de 1% sobre o crédito da Odebrecht Industrial.

“Diante do poder do cargo de Presidente da Petrobrás, Marcelo Bahia Odebrecht e Fernando Luiz Ayres da Cunha resolveram desta feita ceder à solicitação, pelo menos parcialmente, tendo acertado um pagamento de três milhões”, diz trecho do despacho.

Conforme relatado pelo juiz, André Gustavo afirmou que recebeu o dinheiro, entretanto, alegou que o pagamento foi por uma consultoria dada ao Grupo Odebrecht. Ainda segundo o despacho, André Gustavo apresentou duas notas fiscais que foram canceladas, segundo ele mesmo, a pedido da Odebrecht, que insistiu no pagamento em espécie.

G1

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