Metrô de Santiago voltou a funcionar parcialmente, mas algumas das estações do centro da capital chilena continuam fechadas. Mais de 5 mil escolas pelo país estão sem aulas.
CHILE – O governo do Chile decretou novo toque de recolher na região metropolitana de Santiago a partir das 20h (horário local) desta segunda-feira (21). A capital chilena e outras cidades do país tiveram novo dia de protestos, mesmo após as autoridades locais cancelarem o aumento no preço das passagens de metrô – o que gerou as primeiras manifestações.
- Manifestantes fazem barricada em protesto em Santiago, no Chile — Foto: Edgard Garrido/Reuters
- Manifestantes ocupam a Praça Baquedano, em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (21) — Foto: Ivan Alvarado/Reuters
- Manifestante sobe em estação de ônibus em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (21) — Foto: Ivan Alvarado/Reuters
- Manifestante rebate bomba de gás lacrimogêneo lançada por policiais durante protestos em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (21) — Foto: Miguel Arenas/AP Photo
- Polícia joga jato d’água em manifestantes que fazem barricada em Santiago, capital do Chile, nesta segunda-feira (21) — Foto: Edgard Garrido/Reuters
- Forças de segurança intervêm em protesto em Valparaíso, no Chile, nesta segunda-feira (21) — Foto: Rodrigo Garrido/Reuters
Além de Santiago, outras regiões estão sob toque de recolher: Valparaíso, Concepción, Antofagasta Rancagua. Na capital, será a terceira noite consecutiva em que a medida valerá – das 20h às 6h (horário local).
Na tarde desta segunda-feira, milhares de manifestantes se concentraram na Praça Itália, também conhecida como Praça Baquedano, que fica na região central de Santiago. Segundo a imprensa chilena, os protestos começaram pacíficos e com diversas frentes – não há apenas um grupo organizando os atos.
Porém, mais tarde, agências internacionais e jornais e emissoras chilenos registraram imagens de forças de segurança lançando bombas de efeito moral e atirando jatos de água contra os grupos. Alguns manifestantes também fizeram barricadas na capital em em outras cidades.
Brasileiros
O Consulado-Geral do Brasil em Santiago informou que não há registro de brasileiros feridos, detidos ou envolvidos nos protestos. O Consulado tem recebido muitos questionamentos sobre o cancelamento de voos e os procedimentos em decorrência do toque de recolher. O Itamaraty indica aos brasileiros com dificuldade de embarcar em seus voos no Chile que verifiquem o estado das decolagens antes de se dirigirem ao aeroporto e, em caso de cancelamentos, que reagendem os bilhetes diretamente com as companhias aéreas.
Em caso de voos noturnos não cancelados, informa o Itamaraty, na hipótese de decretação de toque de recolher, passageiro deve deslocar-se ao aeroporto antes do início da restrição de movimentação.
Algumas estações da linha 1 do metrô de Santiago, que cruza a cidade de leste a oeste, voltaram a funcionar nesta segunda. Ainda assim, há pontos fechados na região central da capital chilena. Nesta segunda, segundo o jornal “El Mercurio”, outra estação precisou ser fechada.
A ministra da Educação chilena, Marcela Cubillos, anunciou que 5.684 escolas estão com as aulas suspensas em quatro regiões do Chile, inclusive a Grande Santiago.
A onda de protestos no Chile se intensificou na sexta-feira (18), quando manifestantes incendiaram estações de metrô e outros estabelecimentos em atos contra o aumento no preço das passagens. Onze pessoas morreram e mais de 1,4 mil foram detidas, segundo o balanço oficial mais recente divulgado até a última atualização desta reportagem.
Entenda em cinco pontos os protestos no Chile:
Governo anunciou um aumento de 30 pesos na tarifa do metrô, equivalente a R$ 0,17;
Violência aumentou nos protestos a partir de sexta-feira (18), após confrontos com a polícia;
Chile decretou, no sábado (19), estado de emergência por 15 dias, e o Exército foi às ruas pela 1ª vez desde a ditadura, que durou de 1973 a 1990;
Ainda no sábado, presidente chileno suspendeu o aumento na tarifa do metrô, mas os protestos continuaram;
Metrô de Santiago fechou e o aeroporto da capital chilena teve voos suspensos.
‘Estamos em guerra’
O centro de Santiago está cheio de marcas dos protestos: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e destroços nas ruas. Quarenta e oito cidades suspenderam as aulas nesta segunda.
O presidente chileno, Sebastián Piñera, disse em um pronunciamento no domingo que esta segunda seria “um dia difícil”.
Porém, nesta segunda, o general Javier Iturriaga, responsável por coordenar o estado de emergência, negou haver estado de guerra.
Após a declaração, porém, o militar afirmou que não quis contradizer o presidente chileno. “Queria assinalar que não é apropriado especular sobre uma frase que eu disse hoje [segunda] pela manhã. Nas minhas palavras, nunca houve uma segunda intenção a respeito do que disse o presidente da república”, disse Iturriaga.
O balanço da revolta social é sem precedentes desde o retorno da democracia ao Chile, em 1990. Protestos liderados por estudantes contrários a um aumento de tarifa no transporte público começaram duas semanas atrás, porém se tornaram mais violentos na sexta-feira. Piñera reverteu a medida e declarou um estado de emergência.
Até o momento, o movimento aparece como uma crítica generalizada a um sistema econômico neoliberal que, por trás do êxito aparente dos índices macroeconômicos, esconde um profundo descontentamento social.
No Chile, há insatisfação com o acesso à saúde, parcialmente privatizada, bem como ao ensino superior, que é pago e gera endividamento das famílias, dificultando o ingresso de estudantes mais pobres. As baixas aposentadorias pagas por um sistema de previdência que segue o modelo de capitalização também preocupam os chilenos.