Decisão judicial obrigava o Executivo de Presidente Venceslau a entregar remédios para Maria Eduarda Andrade Machado, que faleceu no domingo (9).
PRESIDENTE VENCESLAU – “Não é filha dele. Não é ele que vai enterrar um pedaço dele. É ruim a gente ver o descaso, saber que um prefeito se julga ser Deus. Porque ele tirou o direito da minha filha viver. Ele só tinha que dar a medicação, cumprir a decisão judicial”. Essa é a afirmação da dona de casa Andrea Sponton Andrade, que enterrou sua filha Maria Eduarda Andrade Machado, de 19 anos, nesta segunda-feira (10), em Presidente Venceslau, e ressaltou que a falta de medicamentos, que deveriam ter sido fornecidos pela Prefeitura após uma decisão judicial, contribuiu para a morte da garota.

Maria Eduarda Andrade Machado, de 19 anos, morreu neste domingo (9), em Presidente Venceslau (Foto: Reprodução/TV Fronteira)

Andrea Sponton Andrade conseguiu na Justiça que a Prefeitura de Presidente Venceslau fornecesse os medicamentos para sua filha (Foto: Reprodução/TV Fronteira)
Maria Eduarda tinha autismo e Síndrome de Lennox-Gastaut. No domingo (9), ela foi hospitalizada após uma forte convulsão, mas não resistiu e morreu. Para controlar as crises convulsivas e o autismo, a mãe contou que ela dependia de medicamentos, que eram assegurados por meio de decisão judicial.
“A medicação começou a atrasar em 2015. A gente correu com o que podia. O advogado entrou com uma cobrança de multa. E, desde 2015 para cá, um mês vinham os medicamentos, outros não vinham. E foi indo até quando chegou o final do ano passado. A gente foi lutando, comprando o que dava, tirando de comer, de pagar conta, para não deixar ela sem medicação”, explicou Andrea.
Ela pontuou que entregou a receita médica no dia 22 de dezembro do ano passado, mas somente parte dos medicamentos foi entregue em março de 2017 pela Prefeitura. “Alguns remédios vieram, outros não apareceram. Ela não precisava só de um remédio, era um conjunto de síndromes que ela sofria”, disse.
O “ele” a quem Andrea se refere no início da matéria é o prefeito de Presidente Venceslau, Jorge Duran Gonçalez (PSD). Ela afirmou que a entrega incorreta dos medicamentos acarretou no agravo da situação da saúde de sua filha.
“Eu comecei a correr por isso, porque eu queria que ela continuasse a lutar, mas não adiantou nada lutar e não ter o direito de receber aquilo de que ela precisava. A gente se sente impotente. Hoje eu me sinto um nada”, lamentou a mãe.
A mãe ressaltou que a filha era totalmente dependente e que necessitava desses medicamentos, mas que tinham um custo mensal de cerca de R$ 1.000. Por isso, uma decisão da Justiça obrigava que o Poder Executivo venceslauense fornecesse os remédios.
“O que é que eu vou fazer daqui para frente? Eu me tornei mãe 25 horas por dia, há três anos, que foi quando a situação foi se agravando e as convulsões dela eram muito fortes”, falou Andrea.
Na semana passada, sobre a falta dos medicamentos, a Prefeitura de Presidente Venceslau respondeu que a Secretaria Municipal de Saúde estava tomando as devidas providências.
“A gente luta, ela conseguiu esse direito, ela ganhou esse direito e você vê que as pessoas brincam com a Justiça e brincam com a vida. Minha filha não tomava essa medicação porque ela queria, ela precisava para ficar viva e hoje eu vou enterrar a minha filha”, finalizou a mãe.
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Presidente Venceslau informou que possui todos os comprovantes de entrega dos medicamentos para a paciente Maria Eduarda Andrade Machado.
“Os remédios para controle das crises epilépticas estavam em dia. O último foi entregue à paciente no dia 24 de março e tem uma quantidade para 30 dias. O único medicamento que não foi entregue é o que cuidava do autismo da jovem, mas esse não está relacionado à causa de seu falecimento”, pontuou a pasta municipal.
A Prefeitura de Presidente Venceslau ainda lamentou a perda da jovem e enfatizou que “está solidária à dor da família”.